06 agosto 2021
06 ago 2021

A serviço da identidade

A serviço da identidade
Entrevista com P. Stefan Tertünte SCJ, diretor do Centro Studi Dehoniani, sobre a herança de Dehon e como ela pode ser transmitida hoje.
por  André Lorenz
Dein Reich Komme
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Por que existe o Centro Studi Dehoniani?

O Capítulo Geral desejava, na época, que se fundasse uma tal instituição porque na Congregação havia a sensação de que se sabia muito pouco sobre a identidade dos dehonianos. Poucas obras de Padre Dehon estavam publicadas. Assim, em 1972, começou uma grande reflexão sobre nossa identidade e nossa espiritualidade, que o Centro Studi Dehoniani difundiu, sobretudo pela revista Dehoniana.

Isso, fundamentalmente, continua valendo hoje: o Centro Studi Dehoniani está a serviço da identidade.

Nesse ano, e no próximo, há muito que festejar para o Centro Studi Dehoniani.

… sim, é isso mesmo! No próximo ano o Centro Studi Dehoniani completará 50 anos. Ao mesmo tempo, festejamos o ex-Superior Geral, P. Albert Bourgeois, que teria completado 100 ano, no dia 30 de janeiro. Sob a sua direção é que foi fundado o Centro Studi e ele também contribuiu para as nossas Constituições, isto é, a nossa Regra de Vida.

Como vocês festejam?

Valemo-nos do jubileu como oportunidade para tornar nossos confrades mais cientes do trabalho de P. Bourgeois e das nossas Constituições, até o ano que vem, quando ocorrerá o 40º aniversário do reconhecimento das nossas Constituições. Em vista disso, há várias iniciativas: por exemplo, em colaboração com a Postulador e o Arquivista da Congregação publicámos, online, uma biografia de P. Bourgeois. Também divulgámos um ótimo comentário de P. Bourgeois sobre as Constituições, em nossas cinco línguas, simultaneamente.

Pode-se considerar P. Bourgeois o fundador do Centro Studi Dehoniani?

Ele era Superior Geral, sob cuja direção propriamente fundou-se, em 1972, o Centro Studi Dehoniani. Também é dele que procede a Mission Statement que ainda hoje se encontra em nosso site. Em função disso ele é o pai espiritual.

Donde vinha a sensação, ao início dos anos 1970, de que se sabia pouco sobre o Fundador?

Foi também um resultado do Concílio Vaticano II, que disse às comunidades religiosas: vocês precisam cuidar mais dos seus fundadores religiosos. Vocês devem preocupar-se mais daquilo que lhes é próprio. Isso levou à uma instituição onde se pesquisa sobre o nosso Fundador, sobre a nossa história, sobre a nossa espiritualidade e a nossa atualização. O período inicial foi um tempo muito intenso de reflexão em que, por exemplo, tanto a quantidade quanto a qualidade das contribuições na Dehoniana foram marcantes. Isso se atenuou na medida em que Dehon se tornou mais conhecido. Depois, o Centro Studi Dehoniani passou a se ocupar mais das Constituições.

Como está hoje?

Agora estamos na situação em que pensamos que se deva prestar mais atenção às Constituições. Parece-nos que as Constituições estejam num estado de torpor. São acolhidas no noviciado, mas depois são deixadas de lado.

Mas as Constituições são, obviamente, parte da própria Congregação e dos confrades. Qual é, pois, o problema?

Isso não é tão evidente. No Vaticano foi muito reforçada a importância das Constituições, como nossa janela sobre Cristo: as Constituições deveriam mostrar a cada confrade a sua específica abordagem de Cristo. A vida e as atitudes dos religiosos deveriam ser plasmadas a partir disso. Mas é o que falta em muitos casos.

O que, exatamente, pode ser feito para fortalecer a consciência das Constituições?

As Constituições deveriam ser, muito mais, parte da formação inicial e permanente. Não basta estudá-las uma vez, no noviciado. Quando uma pessoa acumulou anos de experiência de vida e de trabalho, então deve retomar nas mãos as Constituições para examinar o que elas têm a dizer à sua vida atual. É bom oferecer formação sobre as Constituições e fazer retiro a partir delas. As lideranças provinciais podem avaliar até que ponto as Constituições têm importância nas decisões: sobre a organização da Província, sobre como assumir e deixar projetos pastorais. As Constituições oferecem critérios para isso. Pode-se, também, simplesmente encorajar as pessoas a lê-las. A nossa experiência é que, depois de um estudo mais intenso das Constituições, frequentemente ouve-se dizer: aqui tem mais do que eu pensava. A coisa mais radical que eu ouvi, depois de um retiro, na África do Sul, foi dita por um confrade: a rigor, isso é suficiente para viver.

O Centro Studi Dehoniani não só conserva a herança do Fundador e a torna acessível às gerações atuais mas, ao mesmo tempo, envolve-as ativamente, nos projetos e eventos. Qual é, exatamente, seu papel na Congregação?

Existem temas que são prioritários para nós: por exemplo, o projeto de digitalização dos escritos de Dehon que avança há décadas, e agora também a revista Dehoniana. Recentemente, colocámos online todos os volumes, em italiano e francês. Trata-se de 1.300 contribuições, só em italiano, que agora estão disponíveis como um tesouro para a reflexão da Congregação. Em nível institucional temos, atualmente, a responsabilidade e a coordenação da Comissão Teológica Internacional. Quando organizámos, há dois anos, o Simpósio sobre a devoção ao Sagrado Coração, com a Universidade de Lucerna, realizamo-lo juntos, desde o início.

Parece um monte de tarefas diferentes e exigentes. Como se faz para gerenciar tudo isso?

É pouco o que o Centro Studi Dehoniani faz sozinho. Numa rede de atividades acontecem muitas coisas. Há necessidade de especialistas em informática, necessitamos de colaboradores para corrigir diversas línguas, temos um estudioso da correspondência de Padre Dehon que, sozinha, compreende cerca de 6.000 documentos.

Quanto da obra de Dehon ainda precisa ser digitalizado?

Todos os seus livros estão digitalizados e publicados. Agora restam “apenas” algumas centenas de documentos não divulgados que precisam de encaminhamento. Além disso há trabalho a ser feito sobre a correspondência: agora estamos trabalhando nas publicações do ano de 1905. Logo, ainda faltam 20 anos.

Quando começou a digitalização?

Com o meu mandato iniciamos o tempo da publicação online. Antes disso, houve o trabalho de transcrição digital, uma tarefa longa e pouco agradável. Um bom número de confrades trabalhou muito nisso.

Como é a equipe do Centro Studi Dehoniani?

Está sempre mais difícil encontrar pessoas qualificadas a tempo integral. Por isso começamos a nomear os membros do Centro Studi a tempo parcial. Por exemplo, Stefano Zamboni está em Roma, mas não vive nem trabalha conosco. É professor de teologia moral e dirige a revista Dehoniana. Além disso, o nosso ex-colaborador, P. Arnaiz-Ecker, continua a trabalhar para nós, part-time. Mesmo como novo provincial da Espanha, acabou de traduzir ao espanhol o comentário de Bourgeois. Também os padres Emmanuel da Índia e Victor do Brasil trabalham part-time. Dedicam-se, principalmente, às suas teses de doutorado e, num dia por semana, aos projetos do Centro Studi Dehoniani. Só o meu confrade polonês, P. Jakub, trabalha a tempo integral e é responsável comigo pelo projeto “Introdução aos Estudos Dehonianos”.

Qual é o seu próximo grande projeto?

Em outubro iniciaremos um curso bienal de introdução a temas dehonianos, à literatura, à história. Cinco confrades hão de participar: da Venezuela, Camarões, Índia, Brasil. Todos já tem boa experiência: por exemplo, participarão o ex-diretor acadêmico da faculdade de Taubaté e o ecônomo provincial e formador da Venezuela. Estão todos bastante motivados, aprendendo italiano e francês. Este é, aliás, o pré-requisito essencial para iniciar o curso, em outubro.

Durante a pandemia do Corona, vocês também tiveram muitas reuniões online. Como funcionou?

Aprendemos que é possível encontrar-nos muitas vezes e com intervalos mais breves. A título de exemplo, a Comissão Teológica Europeia se reunia uma ou duas vezes por ano, em uma casa. Agora descobrimos que podemos encontrar-nos mais vezes e, talvez, por apenas duas horas. Durante o Seminário teológico da Congregação, que pela primeira vez foi organizado online, com participantes de todos os continentes, trabalhou-se em pequenos grupos. Trabalhar num grupo grande, por outro lado, tornou-se mais difícil. Nos percursos de reflexão e de trabalho exigentes é, contudo, vantagem estar juntos.

Isso significa que algumas reuniões digitais sobreviverão à pandemia?

Decididamente, sim! Os ritmos mudarão e mudará a quantidade de tempo investido. É, também, uma questão econômica: não se precisa gastar tanto dinheiro para viagens de ida e volta, o que também ecologicamente é ponderável.

É um problema que o francês esteja perdendo, dramaticamente, a sua importância? Sempre menos se fala francês…

Este é um desafio. Temos algumas traduções em outras línguas, mas ainda muito limitadamente. O Governo Geral, na sua Carta Programática, encorajou o aprendizado do francês, mas de fato o inglês é a língua sempre mais falada na Congregação. Assim, o nosso site dehondocsoriginals.org, onde tudo está em francês, restringir-se-á em site para especialistas. Mas dificilmente há uma Congregação religiosa que disponibilize, online, tantos recursos informativos de seu Fundador quanto nós.

É tarefa do Centro Studi Dehoniani não apenas conservar a herança de Dehon, mas também prepará-la de modo tal que as gerações atuais possam acessá-la da melhor forma. É possível também ganhar dinheiro com este patrimônio?

Não. Esta é, talvez, uma perspectiva com a qual ainda não contamos. No Brasil houve um projeto de publicação ao qual concedemos os direitos, gratuitamente, porque somos felizes com a difusão. No momento não há grande interesse sobre Dehon, de sorte que se possa obter lucros no mercado editorial. O que pode ser comercializado é a nossa experiência com a digitalização e publicação online das nossas coleções, em arquivo.

Quais foram os destaques pessoais, para o seu trabalho? De que se orgulha?

Um momento importante foi quando Victor Barbosa e Emmanuel Nanduri terminaram o seu curso quinquenal sobre os estudos dehonianos. Foi uma emoção ver o quanto é possível realizar em termos de formação e competência dehoniana. Naturalmente, o Congresso com a Universidade de Lucerna foi um ponto alto. Para mim, é sempre gratificante quando posso trabalhar com os confrades sobre Dehon e as Constituições, porque me dou conta que estou pessoalmente na minha competência e que partilho algo que pode ser útil para a identidade dos outros.

Qual a coisa mais recente que aprendeu sobre Dehon?

Recentemente li que Dehon viajou por quase todos os mais de 40 países em que, hoje, a Congregação está presente.

Como a importância do Centro Studi Dehoniani mudou nos últimos 50 anos?

Ao início, o Centro Studi Dehoniani era um Think tank (laboratório de ideias), hoje é mais um Ressourcenpool (reserva de recursos a partilhar).

 


Dein Reich komme  02/2021

Dein Reich Komme é a revista dos Dehonianos da província alemã.

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