Esperança, motor da vida consagrada e da missão ao serviço dos outros
O ano de 2025 foi proclamado pelo Papa Francisco, de venerável memória, como ano jubilar, e o tema que deve guiar os fiéis ao longo deste tempo é a esperança, uma das virtudes teologais. Propomo-nos, neste artigo, refletir sobre a esperança como motor da vida consagrada e da missão ao serviço dos outros. Começaremos por esclarecer o que é a virtude da esperança e a sua relação com as outras duas virtudes teologais — a fé e a caridade — antes de mostrarmos como ela pode ser força propulsora da vida consagrada e da missão dos consagrados.
1. A esperança e as outras virtudes teologais
A esperança é a segunda virtude teologal, depois da fé. As virtudes teologais são três: fé, esperança e caridade. Afirmamos a virtude da esperança no ato de esperança que rezamos nas nossas orações:
Meu Deus, espero com firme confiança
que me dareis, pelos méritos
de Jesus Cristo, a vossa graça neste mundo
e a felicidade eterna no outro,
porque Vós o prometestes
e sempre cumpris as vossas promessas.
Amém.
A esperança é, portanto, uma disposição interior do crente que consiste em confiar na realização das promessas de Deus nesta vida presente e na vida futura. A esperança implica espera, confiança e paciência. O crente não conhece nem o momento nem a forma do cumprimento das promessas divinas, mas apoia-se na confiança em Deus, com a convicção firme de que alcançará o objeto prometido.
Podemos não ter sempre clareza sobre o modo e o tempo do cumprimento dessas promessas, e por isso é preciso confiar plenamente em Deus e na relação que Ele deseja estabelecer com cada crente. Quando falamos de espera, ela não é necessariamente de ordem temporal, mas sobretudo escatológica. Cristo ensina-nos a viver na espera e na esperança da manifestação da glória que Deus reserva para cada um de nós nesta vida, mas sobretudo na plenitude dos tempos. A esperança faz-nos desejar e esperar a vida eterna com Deus. Ela reforça a nossa confiança nas promessas de Deus, apoiando-nos apenas em Nosso Senhor Jesus Cristo e na graça do Espírito Santo. Para manter viva essa esperança, é necessário armar-se com a virtude da perseverança. A perseverança consolida e sustenta a paciência.
O que caracteriza a esperança cristã é a certeza de que a vida não termina no vazio. A vida cristã é um caminho que precisa de momentos fortes para se alimentar de esperança. “Pôr-se a caminho é a característica de quem procura o sentido da vida.”
No entanto, é importante dizer que esta espera não é passiva ou ociosa. Antes de vermos como devemos, como consagrados, viver e transmitir essa virtude da esperança, falemos da relação entre a esperança e a fé cristã, por um lado, e a esperança e a caridade, por outro.
1.1. Esperança e fé cristã
A vida cristã é uma peregrinação na fé guiada pela esperança. A esperança não é otimismo nem positivismo, mas fruto de uma crença firme alimentada pela Palavra de Deus, que influencia a nossa atitude diante dos acontecimentos diários, nos deveres de caridade e na tolerância, enraizada na transformação da nossa humanidade segundo o plano de Deus. A nossa fé é sempre um caminho, uma peregrinação rumo à plenitude dos tempos, ou seja, a parusia, o retorno de Cristo para o juízo final.
A Epístola aos Hebreus descreve a fé como “a certeza daquilo que se espera, a convicção de fatos que não se veem” (Hb 11, 1). E continua mostrando como a esperança foi o motor da fé e da missão dos nossos antepassados na fé: Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Isaac, Jacó, José, Moisés, Sansão, Jefté… (Hb 11, 1-40). Eles enfrentaram grandes provações e triunfaram graças à virtude da esperança. Não viram, durante a sua vida, o cumprimento do objeto da sua esperança, mas a confiança na realização foi o que lhes permitiu perseverar na espera.
A esperança é a arma que ajuda o crente a vencer o medo e a suportar provações difíceis. Permite enfrentar as vicissitudes da vida presente, por mais duras que sejam. São Paulo encoraja os fiéis de Tessalônica com estas palavras: “Não vos entristeçais como os outros que não têm esperança” (1Ts 4,13). Se faltar a esperança, a fé e a vida cristã perdem o seu sentido. Os cristãos não poderão ser sal da terra nem fermento na massa. Tornar-se-ão presa fácil das ideologias, como caniços que se dobram ao sabor do vento (cf. Sl 1,4). É neste sentido que a esperança alimenta e vivifica a fé.
O nosso Credo niceno-constantinopolitano é trinitário — isto é, confessa as três Pessoas num só Deus — e pode ser dividido em três partes: a questão de Deus (criação e transcendência), a questão cristológica (encarnação e redenção), e a questão do Espírito Santo, que vivifica a Igreja e os crentes. Esta última parte termina com a formulação da esperança cristã: “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.” Esta vida futura o crente não conhece em detalhes, mas tem a certeza de que o futuro não leva ao vazio. Essa certeza dá sentido à vida presente, pois abre-se a um futuro promissor. Crescer na fé e na vocação missionária no mundo presente ajuda a enfrentar as dificuldades do dia a dia e a dar sentido aos nossos esforços rumo a esse horizonte futuro que se espera.
Essa fé na vida futura ajudou os primeiros cristãos a suportar perseguições, tribulações e até a morte. Assim, a esperança motiva outras virtudes como a coragem, a fortaleza e a temperança, que, por sua vez, permitem ao crente superar-se constantemente e projetar-se no futuro e no horizonte escatológico.
Por outro lado, a esperança faz parte da natureza dos seres criados à imagem e semelhança de Deus (Ef 1, 3-5). São Tomás de Aquino descreve a fé como a substância das coisas que se esperam, a disposição estável do espírito pela qual a vida eterna enraíza-se em nós. A fé contém as coisas pelas quais esperamos; ela ajuda-nos a crer naquilo que ainda é invisível, e a esperança conduz-nos à certeza de que, pela graça de Deus, se cumprirá. A esperança leva-nos a vislumbrar a vitória após os sofrimentos e motiva-nos a empenhar mais esforços para alcançar aquilo que buscamos.
A fé leva inevitavelmente à esperança. A esperança é a expectativa do cumprimento das promessas de Deus. Crer é abandonar-se, como Abraão, numa aventura sem garantias, confiando apenas na Palavra de Deus. É a esperança na nossa salvação definitiva, garantia dos bens que se esperam, prova das realidades que não se veem (Hb 11,1). O compromisso extraordinário dos primeiros cristãos era sustentado pela fé na vinda iminente de Cristo (1Ts 5,2). Isso os impulsionava à vigilância e à coragem para enfrentar situações difíceis (Rm 13,11-14). Essa certeza é um estímulo para colocarmo-nos ao serviço e um âncora firme e segura que nos mantém firmes no compromisso.
Quando os fiéis perdem ou se afastam da fé e da esperança nas promessas de Deus, deixam de se empenhar na transformação do mundo e, pior ainda, abandonam o impulso missionário. Pode-se dizer que a esperança é uma força que dinamiza a fé e o compromisso do crente.
1.2. Esperança e caridade
A Constituição pastoral Gaudium et spes afirma no seu preâmbulo:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. E não há nada de genuinamente humano que não encontre eco no seu coração. A sua comunidade compõe-se de homens que, reunidos em Cristo e guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação rumo ao Reino do Pai, receberam uma mensagem de salvação que devem comunicar a todos.”
A esperança sustenta o compromisso cristão de amar mais, de fazer o bem, de suportar sofrimentos e adversidades, e de trabalhar com determinação pela salvação própria e dos irmãos.
A esperança mobiliza energias para a transformação do mundo através da frutificação dos talentos e carismas que o Espírito Santo nos concedeu. Na parábola dos talentos, o terceiro servo não fez render o seu talento porque lhe faltava esperança, ao contrário dos dois primeiros, que confiaram que o talento poderia produzir frutos e ser benéfico para o seu senhor (Mt 25,24-25).
A esperança liberta do medo e do egoísmo e abre à generosidade para com Deus e para com o próximo. Nesse sentido, São Paulo diz aos romanos: “Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, agradável e perfeito.” (Rm 12, 1).
A esperança abre-nos à construção de um futuro melhor. De fato, a mensagem cristã não é apenas informativa, mas também performativa. Ela nos convida a agir concretamente, a produzir frutos na vida quotidiana. Chama-nos a antecipar o Reino de Deus.
2. A esperança no coração da vida consagrada
As nossas congregações religiosas são a concretização da utopia dos seus fundadores. O ideal das fundações nasce de um desejo de estar mais próximo de Deus, de O amar e de O servir com maior intensidade. O ideal é uma tensão em direção à perfeição, à vida bem-aventurada. A vida consagrada muitas vezes nasce em tempos de crise na Igreja ou na sociedade, e os fundadores, desenvolvendo uma espiritualidade ou um ideal de vida, desejam abrir um caminho de saída para essas crises. Tornam-se, assim, portadores de esperança para a Igreja e para a sociedade do seu tempo.
Desde as suas origens, a vida consagrada é um apelo a viver a radicalidade evangélica para despertar a consciência dos homens a se voltarem mais profundamente para Deus. É sempre uma busca de perfeição ou santidade — algo que está presente, mas ainda não plenamente realizado. Ao revisitarmos as fundações das nossas ordens, descobrimos que todos os fundadores foram, de alguma forma, aventureiros que por vezes caminharam às cegas; em determinados momentos foram tentados a abandonar o projeto ou a sucumbir ao desânimo. No entanto, foi necessária a virtude da esperança para que pudessem continuar a perseguir o seu ideal.
Como exercício, cada um pode revisitar a história da fundação do seu instituto e identificar os momentos de desânimo e de hesitação, bem como os momentos em que os fundadores se reergueram com a força da esperança para continuar a sua obra.
Nós, seus discípulos, ao aderirmos aos seus ideais, estamos igualmente em busca de uma santidade de vida. E a santidade de vida está na ordem da esperança. Persegue-se através de uma contínua conversão. A esperança fornece a força necessária para o nosso próprio renovamento e para a renovação da Igreja. Se revisitarmos também a história da nossa vocação — e é sempre necessário revisitá-la — perceberemos que os momentos em que mais vacilamos foram precisamente os momentos de crise de esperança.
A esperança é fruto de uma fé profunda alimentada pela Palavra de Deus, implementada nas nossas atitudes diante dos acontecimentos quotidianos, nos atos de caridade, na tolerância para com os outros. Ela é a motivação que nos mantém ligados à nossa missão, criativos nas respostas às dificuldades e desafios, e determinados a continuar a descobrir o caminho mesmo quando o nevoeiro encobre o futuro. É a luz que ilumina os nossos momentos de escuridão e nos mantém firmes no nosso caminho rumo à meta final, tornando-nos também luz para os outros que nos são confiados na missão: ajudá-los a encontrar o caminho da sua salvação.
Nós, religiosos e religiosas, temos a missão de moldar o destino dos povos que vivem em situações desesperadas. Trata-se, na verdade, de reproduzir a missão de Cristo descrita no Evangelho: tornar credível o Evangelho por meio da vida, libertando homens e mulheres de diversas formas de cativeiro. Como estamos nós a viver essa missão de levar esperança aos povos desesperados?
3. Missão da esperança na anunciação e no testemunho
Os religiosos, assim como todo cristão, são chamados a ser sal, luz e fermento em toda parte onde estiverem. Dar testemunho da fé exige que não sejam um peso para si mesmos ou para a sociedade, mas sim semeadores de esperança conscientes da sua missão de dar sabor ao mundo, iluminá-lo com a luz do evangelho e transformá-lo em um receptáculo de virtudes.
Como nossos fundadores e fundadoras, somos chamados a discernir os sinais dos tempos que o Senhor nos oferece para responder de forma adequada aos desafios na nossa Igreja e nas nossas sociedades. Nossos carismas e espiritualidades são variados e talvez o contexto de hoje seja diferente daquele do tempo dos nossos fundadores, mas devemos sempre buscar renová-los para que, vivendo-os, sejamos portadores de esperança aos nossos contemporâneos.
Temos congregações que foram fundadas para uma obra específica, para responder a uma necessidade da sociedade ou da Igreja, mas que hoje essa necessidade não existe mais. A obra vai morrer? Não, porque o carisma ou a espiritualidade sempre requerem uma reinterpretação e adaptação ao tempo. A obra da Merced, fundada no século XII para o resgate dos escravos, subsistiu mesmo após o fim da escravidão clássica. A ordem hoje se dedica a refletir sobre as escravidões modernas e a buscar formas de libertar ou aliviar aqueles que delas são vítimas.
Os membros trabalham agora com refugiados, não apenas para lhes fornecer meios ou soluções para suas necessidades básicas (alimentação, vestuário, moradia), mas também para sua integração na sociedade de acolhimento, ajudando-os a regularizar sua situação e encontrar um trabalho digno, sem sofrer muitas dificuldades. Fazendo isso, os Irmãos e os Padres são missionários da esperança junto aos refugiados.
A esse respeito, São João Paulo II nos exorta na Vita consecrata: “Vocês não apenas devem lembrar e contar uma história gloriosa, mas construir uma grande história! Olhem para o futuro, para onde o Espírito os envia para fazer grandes coisas.”
Uma dimensão da vida consagrada que pode ajudar os religiosos e religiosas a alimentar a esperança do povo é a dimensão profética. Os religiosos, pelo seu modo de vida e pregação, lutam contra tudo o que desumaniza para devolver coragem aos homens e mulheres sem esperança. São chamados, seguindo Cristo, a libertar os homens e mulheres das diversas escravidões das ídolos (riquezas, sexo, poder). Somos convidados a imitar Cristo na vivência dessa dimensão profética, apropriando-nos de sua missão.
Jesus é o profeta por excelência. No início de seu ministério público, Ele se apropria do texto da sinagoga de Nazaré, Isaías 61, 1-2: “O Espírito do Senhor está sobre mim; por isso, me ungiu para anunciar boas novas aos pobres. Enviou-me para proclamar libertação aos presos, luz aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
Sem ter nada contra as riquezas, pois tinha amigos ricos como José de Arimateia e até frequentava Zaqueu, que adquiriu riquezas duvidosas, Jesus as desacraliza. Ele se levanta contra a ditadura dos bens que escraviza os homens, reduz as relações entre pessoas, povos e nações a uma questão de interesse, cria dependências, impede a amizade e o amor.
A acumulação de riquezas dificulta o compartilhamento e a caridade (o rico e Lázaro – Lc 16, 19-31), expõe à cobiça (Judas – Mt 6, 47), ao orgulho, à arrogância, à opressão dos pobres e à tentação de tomar o lugar de Deus (o rico insensato – Sl 53, 2; Lc 12, 15-20), à corrupção (soldados comprados para mentir sobre a ressurreição de Cristo – Mt 28, 15).
A grandeza em Cristo não está no poder e nas posses, mas no serviço (Jo 13, 1-20). Quem quer ser grande deve assumir a posição daquele que serve (Lc 22, 27). Enquanto todos lutam para dominar, ganhar e se servir, o religioso luta para se livrar dessas solicitações do coração, para esvaziá-lo desses desejos, por mais legítimos que sejam, e só encontra alegria no serviço aos seus irmãos e irmãs.
Cristo veio para servir, e não para ser servido (Mc 10, 45). De condição divina que era, tornou-se homem. Não se contentando apenas com a condição humana, assumiu o lugar do último homem, do escravo que é executado sem respeito por sua dignidade, tudo isso para servir à humanidade e exaltá-la (Fl 2, 6-8). Os religiosos devem ser no mundo uma presença que exalte a dignidade humana.
A pobreza profética é libertadora. Consiste no dom, na gratuidade, na disponibilidade para servir, estímulos para a transformação da sociedade. Os religiosos e religiosas defendem, contra tudo que desumaniza, um trabalho que não busque necessariamente a promoção ou bens a qualquer custo.
4. Alguns lugares férteis para a semente da esperança
- Ambiente educacional. O sábio Confúcio dizia: “Se o teu plano é para um ano, planta arroz. Se o teu plano é para dez anos, planta árvores, mas se o teu plano é para cem anos, educa as crianças.” Os religiosos são educadores de consciência e a educação é um fator de esperança. Através dela, ajudam os povos a enfrentar sua situação presente e futura. Somos convidados a inventar pedagogias portadoras de esperança em nossas escolas, conventos e apostolados. Embora nossos jovens sejam formados, eles não conseguem assumir responsabilidade por si mesmos. Não podemos apenas atribuir a culpa à conjuntura sem questionar se nossas maneiras de formar realmente dão esperança. Certamente, nos esforçamos para formar qualidade em nossas escolas, mas assim como religiosos como Ângela de Médici e Dom Bosco, devemos inventar pedagogias preventivas e curativas para ajudar nossa juventude e nossos povos a aprenderem a ser também inventivos e criativos. Por isso, o Papa nos convida a trabalhar no mundo da juventude. Ele escreve: “É triste ver jovens sem esperança. Quando o futuro é incerto e impermeável aos sonhos, quando os estudos não oferecem perspectivas e a falta de trabalho ou de emprego suficientemente estável ameaça aniquilar os desejos; é inevitável que o presente seja vivido na melancolia e no tédio. A ilusão das drogas, o risco da transgressão e a busca pelo efêmero criam, mais neles do que em outros, confusões e ocultam a beleza e o sentido da vida, levando-os a abismos obscuros e os empurrando a atos autodestrutivos. Por isso, o Jubileu deve ser, na Igreja, uma ocasião para um impulso a seu favor. Com paixão renovada, cuidemos dos jovens, dos estudantes, dos noivos, das novas gerações! Proximidade com os jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo!”
- O diálogo. Os religiosos devem abrir o caminho para o diálogo entre povos de diferentes culturas, religiões, idades e condições sociais. O diálogo promove a unidade na diversidade e dá credibilidade ao seu testemunho. No diálogo, os religiosos não só oferecem aos outros, mas também recebem deles e valorizam o que recebem. Os monges foram por muito tempo agentes do desenvolvimento da agricultura e até das ciências seculares. Após a queda do Império Romano, foram eles que salvaram o patrimônio artístico-literário do mundo antigo das destruições bárbaras e conquistaram as florestas para levar os povos a aprenderem a se formar e a se responsabilizar por meio do aproveitamento das terras. Eles não se limitavam a conservar o patrimônio da antiguidade, mas também a desenvolvê-lo e valorizá-lo para dar esperança à juventude e aos homens sedentos de conhecimento. Os religiosos não devem fugir ou atrasar-se no domínio das ferramentas informáticas que hoje estão na moda. São chamados a humanizar a Inteligência Artificial e até a estar na vanguarda de outros novos meios de comunicação.
- Os religiosos têm a missão de manter viva a chama da esperança na Igreja e no mundo através do seu estilo de vida, coragem e devoção. Sua vida comunitária e a fraternidade que dela decorre produzem o testemunho de que é possível viver em paz e harmonia com pessoas diferentes pela língua, cultura, gostos, idades, condições sociais… Sua vida em comum suscita vocações, ou seja, atrai jovens que buscam um futuro. A falta de vocações é sinal de que os religiosos não estão mais criando individual ou comunitariamente esperança para a juventude.
Conclusão
Devemos acreditar que nossas vidas sempre carregam a missão da esperança para os outros, mesmo que sem perceber. Concluo com uma história que vi num vídeo nas redes sociais. Resumo assim: Os melhores dias de nossas vidas às vezes são aqueles que acreditamos serem os piores, ou os dias em que nos faltam razões para esperar.
Numa noite de domingo, um padre chega à igreja para celebrar a missa como de costume. Na hora habitual, não há ninguém. Ele espera e quinze minutos depois entram três crianças pequenas e se sentam na igreja. Após mais dez minutos, entram dois adolescentes. Ele decide começar a missa com essas cinco pessoas. Durante a missa, entra um casal e senta-se no fundo. Durante a homilia, entra um homem sujo com cordas na mão. O padre não entende por que as pessoas da localidade estão tão pouco engajadas, mas não se deixa afetar pela decepção. Prega com zelo e devoção. Ao voltar para casa, é atacado por dois ladrões que lhe roubam tudo, até sua mala de padre. Ao chegar em casa, trata suas feridas, faz o balanço do dia e diz: “Esse foi o pior dia da minha vida, o dia em que experimentei o fracasso do meu ministério, o dia infrutífero da minha carreira, mas não importa! Fiz tudo pelo Senhor.”
Sete anos depois, pregando na mesma igreja, ele lembra daquele triste dia. Ao terminar a homilia, um casal o detém e diz: “Padre, o casal que entrou quando a missa começou éramos nós. Estávamos à beira do divórcio por muitas desavenças e problemas no lar. Dissemos a nós mesmos, antes de nos separarmos, vamos uma última vez à igreja como de costume. Mas sua homilia nos tocou profundamente, tanto que acreditamos que o senhor pregava só para nós. Na volta para casa naquela noite, minimizamos nossos problemas e hoje formamos uma família unida.”
Depois, um empresário famoso que ajudou muitos pobres da localidade e contribuiu muito para a reforma da igreja pede a palavra: “Padre, eu sou o homem sujo que entrou com as cordas na mão. Eu tinha falido e caído no álcool e nas drogas. Minha esposa e filhos me abandonaram por causa do meu comportamento. Naquele dia, comprei uma corda para me suicidar e, quando a coloquei no pescoço, ela se partiu. Fui comprar outra mais forte, mas ao passar por aqui vi a igreja aberta e pensei em entrar para me distrair um pouco. Sua homilia perfurou meu coração e, ao voltar para casa, mudei de ideia e comecei a trabalhar para abandonar o álcool e as drogas. Comecei a investir no trabalho e hoje minha esposa e filhos estão comigo, formamos uma família feliz, e sou um dos grandes empresários da cidade.”
Na porta da sacristia, o diácono declara: “Padre, eu sou um dos ladrões que o agrediu e roubou tudo naquela noite. Meu companheiro foi morto quando, depois do senhor, planejávamos o próximo roubo. Quando quebrei sua mala, vi sua Bíblia e comecei a lê-la de vez em quando. Gostei de ouvir a palavra de Deus e comecei a frequentar esta igreja. Foi assim que descobri minha vocação e fui para o seminário.”
No final, o padre começou a chorar e seus fiéis o acompanharam em lágrimas. Mas eram lágrimas de alegria, resultado da descoberta de que os dias que acreditamos serem os piores de nossas vidas são, às vezes, aqueles em que Deus opera mais milagres. Por isso, não devemos perder a esperança em nenhuma circunstância, por mais dolorosa que seja. O Senhor está sempre conosco.
Isso para dizer que nunca devemos nos desanimar, mesmo quando sofremos o martírio, e acreditar que estamos sempre em missão e somos portadores de esperança, instrumentos para realizar os desígnios de Deus de salvar a humanidade, que às vezes carece de esperança.