08 julho 2025
08 jul. 2025

Profetas da Esperança

Profetas da Esperança
Este artigo explora o papel profético da vida consagrada como sinal de esperança num mundo em crise. Apoiado nas palavras do Papa Francisco e na tradição eclesial, afirma que a esperança cristã, enraizada em Cristo ressuscitado, dá novo impulso ao compromisso diário e orienta para a eternidade.
por  José Domingos Ferreira, SCJ
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Na sua carta apostólica para a proclamação do Ano da Vida Consagrada (2015), o Papa Francisco indicou três grandes objetivos. O terceiro era: «abraçar o futuro com esperança». O Papa estava plenamente consciente dos muitos obstáculos enfrentados pela vida consagrada — e que continuam a persistir hoje: a diminuição das vocações e o envelhecimento dos membros, especialmente nos países ocidentais; as dificuldades económicas associadas à crise financeira mundial; os desafios da internacionalização e da globalização; as armadilhas do relativismo; a marginalização social e a perda de influência.
Embora essas incertezas pesem profundamente e possam levar ao desânimo ou à frustração entre aqueles que se entregaram a Deus, é precisamente nessas dificuldades que se manifesta a nossa esperança, fruto da fé n’Aquele que continua a dizer-nos: «Não tenhas medo, pois eu estou contigo» (Jr 1,8).

O Papa acrescentava ainda que «a esperança de que falamos não se baseia em números nem em obras, mas n’Aquele em quem pusemos a nossa confiança e para quem “nada é impossível”» (Lc 1,37). É esta esperança que não dececiona e que permitirá à vida consagrada continuar a escrever uma bela história no futuro. De facto, a vida consagrada é fecunda quando respira alegria e esperança.

A esperança é necessária

O escritor André Malraux afirmava que «um mundo sem esperança é irrespirável». Esta verdade evidente é iluminada pelas palavras de Alvin Toffler, segundo o qual «o pessimismo permanente é um substituto do pensamento». Onde reina a tristeza ou a depressão, não pode haver espaço para a esperança. Mas ela renasce assim que uma luz se acende na nossa mente.

Com efeito, o ser humano não pode contentar-se em sobreviver ou viver ao sabor do momento, nem resignar-se ao presente limitando-se às realidades materiais. Essa atitude fecha-nos no individualismo e corrói a esperança, gerando uma tristeza surda, escondida no fundo do coração, que acaba por nos tornar amargos e impacientes.

Ora, a esperança é muito mais do que uma espera passiva: é uma força transformadora da sociedade. Enquanto energia voltada para o futuro, é criativa, ousada, sonhadora. Esperar é querer ir mais longe, recusar-se a contentar-se com aquilo que é e com o que “sempre foi assim”.

O dinamismo da esperança não nos retira da história, mas mergulha-nos nela; não nos afasta dos outros, mas abre-nos ao próximo. Não nos aprisiona no presente, mas projeta-nos para a novidade definitiva da eternidade.
Esperar é caminhar ao encontro do Senhor, comprometendo-se todos os dias na construção de um mundo mais justo e fraterno.

O cardeal Eduardo Pironio, com notável lucidez, constatava que vivemos num mundo prematuramente envelhecido. Afirmava:
«Temos verdadeiras razões para estarmos preocupados e tristes: o mundo, a Igreja, as comunidades religiosas não vão bem. Mas há uma única razão fundamental para permanecermos na alegria e nunca perdermos a esperança: Cristo ressuscitou e prolonga a sua Páscoa entre nós até ao fim dos tempos.»
Esta é a grande motivação que deve alimentar a nossa esperança.

Vida consagrada: profecia da esperança

A esperança está naturalmente orientada para a escatologia, pois é aí que se cumpre plenamente. Com efeito, «esta esperança, bem mais profunda do que as satisfações quotidianas ou as melhorias nas condições de vida, permite-nos superar as provações e chama-nos a avançar sem perder de vista a grandeza do fim para o qual fomos chamados: o Céu».

A Constituição Lumen Gentium afirma que «a restauração prometida, que esperamos, já começou em Cristo; progride através da missão do Espírito Santo e, por meio dele, continua na Igreja. Nela, a fé ilumina-nos sobre o sentido da nossa vida temporal e, na esperança dos bens futuros, cumprimos a missão que o Pai nos confiou, trabalhando pela salvação do mundo.»

Nesta perspetiva, as pessoas consagradas — chamadas a seguir Jesus e a encarnar o seu estilo de vida — evidenciam a dimensão escatológica da sua existência. Pela sua própria vida, testemunham o Reino já inaugurado em Jesus Cristo (Mc 1,15), que encontrará o seu cumprimento na Parusia (1 Cor 15,19-28).

O Concílio Vaticano II sublinha que «o estado religioso, libertando os seus membros das preocupações terrenas, manifesta mais claramente aos fiéis os bens celestes já presentes neste mundo; testemunha a vida nova e eterna adquirida pela redenção de Cristo e anuncia a futura ressurreição e a glória do Reino celeste.»

Assim, a vida consagrada é chamada a encarnar as três dimensões fundamentais da esperança cristã:
• a busca pelo definitivo (tensão escatológica);
• o compromisso diário na história;
• a confiança inabalável em Cristo ressuscitado.

Quando estes elementos se unem, a vida consagrada torna-se um grito profético: de que o Reino de Deus já está em ação entre nós. Mas torna-se também fonte de esperança, despertando nos crentes a fome de eternidade, chamando à confiança em Deus, à fraternidade e ao compromisso pela transformação do mundo.

Sentinelas da esperança

Concluo esta breve reflexão com as palavras inspiradoras do cardeal Pironio:
«Instalar-se no tempo é pecar contra a esperança. Porque fomos feitos para a vida eterna. Não temos aqui uma cidade permanente. A nossa verdadeira pátria está nos céus. Enquanto isso, vivemos “na feliz esperança” (Tt 2,13). A nossa atitude fundamental, como peregrinos, não consiste apenas em aspirar aos bens eternos e desprezar ou ignorar os bens temporais, mas em viver em estado de vigilância: numa atitude de oração, praticando a caridade e fazendo frutificar os nossos talentos, numa espera ardente e ativa do Senhor que vem.»

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