02 abril 2021
02 abr 2021

Sexta-feira Santa

Sexta-feira Santa
por  Léon Dehon
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O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ABANDONADO PELO SEU PAI

 

Durante a sua longa e dolorosa agonia na cruz, o Salvador exclamou: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?». Trata-se de uma palavra verdadeiramente espantosa e que esconde um dos mistérios que mais ocuparam os escritores ascéticos.

I. Nosso Senhor tinha-se carregado com os nossos pecados

Para bem compreender este lamento doloroso, é preciso abrir o Sl 21, que é a descrição fiel dos sentimentos do Coração de Jesus durante a sua Paixão e que se abre com este grito dilacerante: «Meu Deus, porque me abandonastes? – Deus, Deus meus, respice in me, quare me dereliquisti?» O profeta acrescenta imediatamente: «Longe a salute mea verba delictorum meorum; a voz dos meus pecados afasta de mim a salvação». Nosso Senhor estava sobre a cruz oprimido por toda a espécie de dores; a sua santa humanidade tinha direito a alguns alívios, mas tinha-se feito vítima pelo pecado. A fim de nos atrair a bênção, Jesus tinha-se feito maldição por nós. Era preciso, portanto, que o braço da justiça divina se tornasse pesado sobre esta vítima santa; era preciso que o pecado fosse esmagado e destruído pela sua morte; assim, enquanto a vida mortal residisse no Coração de Jesus, devia suportar todas as afrontas e esgotar o cálice da dor.

 II. O Salvador lamenta a perda de muitas almas

Podemos pensar que um outro tormento despedaçava o Coração de Jesus: a ineficácia da sua Paixão para muitas almas. Quantas almas não iriam aproveitar da salvação que Ele adquiria com tanto heroísmo e tanto amor!

O abandono que Jesus sofria sobre a cruz era apenas aparente. A sua alma santa gozava sempre da visão beatífica. As torrentes de dor escondiam a sua alegria sem a aniquilar; mas as almas ingratas, depois de terem abusado da redenção, seriam condenadas ao abandono divino, inteiro, absoluto e sem retorno. Que dizer, se estas almas tivessem sido cumuladas de graças, se tivessem recebido o maior dos privilégios, o de participar no sacerdócio de Jesus, se depois de ter salvado outras almas, se condenassem elas mesmas à reprovação? Tal é o fundo do cálice; aqui está o que há de realmente amargo no sofrimento do Sagrado Coração.

Ele pensa no inferno, onde tantas almas irão precipitar-se, e diz ao seu Pai: «Porque me abandonais sem me conceder o perdão de todos?». Mas era preciso que a justiça divina seguisse o seu curso.

Jesus quisera também acrescentar aos seus sofrimentos corporais este abandono, esta espécie de pena do dano, para nos resgatar mais abundantemente do inferno, sofrendo-o até um certo ponto em nosso lugar, e ainda para nos testemunhar por este sofrimento um maior amor.

III. Que consolação oferecer ao Coração de Jesus?

À nossa compaixão devemos unir o zelo pelas almas.

Era o que faziam Maria e os Santos do Calvário. Partilhavam os desgostos e as tristezas do Salvador e com Ele suplicavam a Deus para aumentar tanto quanto possível o número dos eleitos. Ofereciam as suas orações, os seus sacrifícios, o seu zelo para concorrer para o Reino do Salvador sobre as almas. Com Ele, aceitavam as crucifixões interiores, os abandonos, as tristezas. Prometiam também trabalhar para ganhar as almas através de uma actividade apostólica proporcionada à sua vocação.

Do mesmo modo que Nosso Senhor sofria, sobretudo, pela perda das almas privilegiadas, das almas que tiveram maiores graças ou uma vocação mais elevada, assim os Santos do Calvário desejavam, sobretudo, a salvação e a santificação destas almas, como S. João o manifestou ao longo de toda a sua vida e, nomeadamente, pela terna caridade que mostrou para com os padres da Igreja da Ásia.

É assim que nós devemos trabalhar pela oração e pelo apostolado segundo a nossa vocação, pela salvação e pela santificação das almas e, sobretudo, daquelas que são particularmente caras ao Coração de Jesus.

Resolução. – Bom Mestre, o meu coração compadece o vosso abandono sobre a cruz e choro convosco a perda das almas que vos são caras. Aceitai as minhas orações, as minhas lágrimas, as minhas obras pela sua salvação.

( Léon Dehon, Couronnes d’amour au Sacré-Coeur, )

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