30 dezembro 2020
30 dez 2020

Mãe e guardiã do seu Filho de Deus

por  André Vital Félix da Silva, bispo scj

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Na noite santa do Natal ouvimos: “Completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito”; em seguida, o Anjo do Senhor anunciou aos pastores quem era esse recém-nascido: “Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Se acolhemos a verdade do evangelho e nela cremos, não há nenhuma dúvida sobre quem é a mãe e o seu filho. Se não hesitamos em reconhecer que esse filho é o Cristo Senhor, o Salvador, o Deus feito homem, consequentemente, não haverá nenhuma razão para não reconhecer que, se o filho é Deus, a sua mãe só pode ser Mãe de Deus. Antes mesmo de ser uma afirmação dogmática (Concílio de Éfeso, 431), a Maternidade Divina de Maria é uma exigência natural e coerente para quem diz acreditar que o seu filho é o Deus salvador. Afirmar que Maria é Mãe de Deus é reconhecer que o Verbo Eterno se encarnou verdadeiramente, unindo a sua divindade à nossa humanidade, porém numa só pessoa.

Maria não é a mãe de um Cristo esquizofrênico, esfacelado em uma dupla personalidade, da qual ela seria apenas mãe de uma parte (humana). Mas o Cristo real quis ser chamado filho de uma mulher: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher…” O filho de Maria é o mesmo Filho de Deus. Reconhecê-la como sua mãe não limita a sua maternidade, mas reafirma a sua missão sublime e singular: Mãe do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. A Maternidade Divina de Maria não a torna deusa, mas testemunha que o seu Filho é o Deus encarnado, que assumiu nela a nossa humanidade.

A perícope evangélica desta Solenidade, além de evidenciar a verdade do Natal do Senhor como manifestação do seu amor, que chega ao ponto mais alto, isto é, o esvaziamento de si mesmo (kénosis) a fim de que a vida alcance a humanidade, leva-nos também à contemplação dos acontecimentos importantes da salvação, cujo primeiro tesouro foi o coração e a mente de Maria: “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”.

A exemplo de Maria, somos chamados a contemplar todos esses acontecimentos salvíficos, conservando-os no coração:

1. O nascimento de Jesus como realização da promessa de Deus na história concreta da humanidade: Os pastores foram convidados a Belém para encontrar o recém-nascido. Contudo, esse recém-nascido não estava sozinho: “Encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”. O Messias não é um personagem mitológico, aparecido arbitrariamente na história ou inventado pela fantasia humana para dar respostas a anseios profundos. Mas o Cristo é uma criança nascida de uma mulher concreta, numa família real, cujos pais são conhecidos. Na cena do nascimento do seu Filho, Maria vê se cumprir a profecia que o anjo Gabriel lhe anunciara no momento da anunciação: “Eis que conceberás e darás à luz um filho”. Portanto, a profecia do Magnificat de Maria também se realiza nesse momento: “O Senhor fez em mim grandes coisas”.

2. O primeiro livro onde se inscreveu o evangelho foi a mente e o coração de Maria:“Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Lucas no seu prólogo afirma: “Visto que muitos já tentam compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra…” (Lc 1,1-2). Portanto, o livro do evangelho é o registro de tudo aquilo que as testemunhas oculares tinham guardado, conservado e meditado no coração e na mente. Se Lucas faz questão de dizer, por duas vezes, que Maria guardava todos esses acontecimentos no coração (Lc 2,19.51), não poderíamos deixar de reconhecer o seu precioso papel de testemunha ocular e guardiã dos acontecimentos da salvação. Maria é o evangelho vivo do seu Filho, pois nela a Palavra se encarnou, assumiu a forma mais elevada de comunicação. Ela foi o primeiro livro onde a Palavra foi “escrita”, não com tinta ou trabalho humano, mas pela ação do Espírito Santo, aquele que é a fonte de inspiração de toda a Escritura, especialmente dos evangelhos.

3. A glória e o louvor de Deus sinais da vivência do verdadeiro Natal:Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido… O encontro com o Salvador, o Filho de Deus e de Maria, torna-se o real e suficiente motivo para o culto agradável a Deus, pois é mais de que simples palavras ditas num rito religioso, mas é verdadeira ação de graças, isto é, Eucaristia. Não encontramos em nós os motivos para louvar e agradecer a Deus, mas é na salvação que Ele realiza que encontramos a razão do nosso culto. Glorificamos a Deus por aquilo que Ele fez por nós, assim como Maria: “A minha alma engrandece o Senhor… Pois Ele fez grandes coisas por mim”. Não são as nossas obras que justificam o nosso louvor a Deus, mas as obras Dele em nós, por nós e para nós. Contemplar o recém-nascido, Filho de Deus e de Maria, é reconhecer a grande obra de salvação que o Criador realizou em nosso favor. Celebrar o Natal é tornar-se testemunha disso; é voltar louvando e glorificando a Deus pelo que vimos e ouvimos. Para prestar-lhe o culto verdadeiro é preciso ver os sinais concretos da sua ação no mundo através de quem se empenha na construção da fraternidade, da justiça e da paz. Só acolhendo (ouvindo, guardando e meditando) o seu Evangelho é que poderemos nos tornar, como Maria, verdadeiros anunciadores da boa notícia da salvação, cujo primeiro anúncio se deu na noite de Natal e que ressoa permanentemente a cada dia.

Maria é verdadeira Mãe de Deus porque o seu Filho é verdadeiramente Deus encarnado. Esses são os acontecimentos que devemos guardar no coração e na mente, e deles sermos anunciadores. Se Natal é o nascimento do Filho de Deus, como não sermos gratos à sua Mãe, primeiro Livro do seu evangelho, primeira anunciadora da salvação.

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