11 março 2023
11 mar. 2023

Fontes abertas

Carta para o dia 14 de março de 2023, no aniversário do nascimento de P. Leão Dehon.


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Irpin’ – Kiev, 10 de março de 2023

Aos membros da Congregação
A todos os membros da Família Dehoniana

Nos últimos meses, três dos religiosos participantes do programa do Centro de Estudos Dehonianos em Roma tiveram a oportunidade de compartilhar parte de seu aprendizado em diferentes lugares da Congregação, a saber: Madagascar, Camarões e República Democrática do Congo. Em breve, outro viajará para a Índia com o mesmo objetivo. Aqueles que já retornaram destacaram o interesse que encontraram entre os religiosos e membros da Família Dehoniana em saber mais sobre o Pe. Leão Dehon e sua obra.

Também notamos isto durante as visitas que fazemos às comunidades da Congregação. De fato, o Governo Geral é frequentemente solicitado a promover, sem negligenciar as iniciativas locais, períodos de estudo que ajudem a aprofundar o patrimônio carismático que compartilhamos. Tal pedido requer, sem dúvida, a melhor atenção e implementação possíveis. No entanto, não bastaria contentar-nos unicamente com a oferta regular deste tipo de formação. É necessário ir mais além. Neste sentido, o horizonte desejável a ser alcançado é que um encontro mais íntimo e reflexivo com Pe. Dehon se torne parte de nossa vida cotidiana. Como podemos nos motivar para fixar tempos e espaços em nossa agenda pessoal e comunitária que nos permitam passar mais tempo com ele, com sua espiritualidade e sua obra? Como podemos promover um diálogo mais aberto, amigável e regular com ele? Para que isso aconteça, o caminho é a familiaridade com seus textos e a mediação útil oferecida pelos abundantes estudos realizados sobre sua figura e seus escritos.

A este respeito, o panorama atual mudou muito em relação ao conhecido pelo Pe. Teodoro Govaart SCJ, terceiro Superior Geral, quando em 1942 ele convidou a Congregação a ler as primeiras coleções dos textos do Fundador, tendo em vista o centenário de seu nascimento:

Estes Extratos são úteis, não só para os jovens, mas também para todos nós… De fato, eles nos oferecem a oportunidade de penetrarmos na alma do Padre Dehon. Serão uma revelação para muitos. Nós nos apegamos ao lado exterior desse grande homem, à sua conduta exterior e à sua obra… Quem entre nós penetrou em sua intimidade e, ao fazê-lo, tentou tornar nosso fundador conhecido? Certamente, muitos daqueles que gostariam de tê-lo feito não o puderam fazer porque as fontes não estavam abertas, mais exatamente, permaneciam inacessíveis.[1]

Hoje em dia é muito diferente, as fontes estão abertas. Graças aos esforços de religiosos e colaboradores dedicados ao estudo do Fundador, hoje temos acesso à maioria de seus escritos, bem como a biografias, ensaios, artigos e outras publicações que facilitam nosso conhecimento sobre ele com diferentes perspectivas[2]. Entre essas, para citar somente algumas, o testemunho de Dom Lourenço Philippe[3], segundo superior geral; estudos como os de Pe. André Perroux[4], Pe. Yves Ledure[5] ou o mais recente do Dr. David Neuhold[6], traduzido em diversas línguas; elaborações didáticas ainda a serem difundidas como as de Pe. Quinto Ragazzoni[7] ou de Pe. Paweł Krok[8]. Enfim, os materiais não faltam. Aproximando-nos pois do centenário de sua morte, não estamos por acaso diante de um momento particularmente oportuno para aproveitar com mais dedicação tão bons recursos? Por onde começar?

Padre Dehon foi extenso em sua produção intelectual e em seu apostolado. Sabemos disso. Desse modo expressou seu amor genuíno por Deus e o zelo apaixonado que tinha pelo seu Reino nas almas e na sociedade. Entretanto, a paixão também o levou a excessos em algumas de suas páginas com opiniões específicas e julgamentos de valor que ele poderia ter omitido, ponderado melhor ou ao menos expressado de uma maneira diferente. Mas mesmo assim, o certo é que a partir de sua experiência cristã, nosso Fundador ousou contemplar, estudar, pensar e entrar em permanente diálogo com sua fé e com seu tempo, marcado pelas vicissitudes de homens e mulheres de toda classe, lugar e condição que de modo algum lhe eram alheias.

Seu legado não é o de um homem autorreferencial perdido em si mesmo, mas de um buscador sincero que investiu generosamente seus talentos no exigente serviço do Evangelho, na fidelidade à Igreja e em contribuições concretas à sociedade. De fato, podemos dizer que ele aprendeu a ouvir e a viver o Evangelho, aceitou ser discípulo na Igreja e assumiu a tarefa de ser um cidadão comprometido em um mundo cada vez mais necessitado de amor e reparação. Nesta ocasião, o desafio que queremos compartilhar com vocês não é apenas ler e conhecer os escritos do Fundador, mas assumir como nossa a sua maneira de discernir e responder ao chamado de Deus; a sua maneira de entender a Igreja e o mundo; o seu modo de se relacionar com a política, com os trabalhadores e empresários, com as crianças e os jovens, com os eclesiásticos e a vida religiosa. O que o motivava? O que ele pretendia? Como sua maneira de agir nos ilumina hoje para que não fiquemos indiferentes, superficiais ou abstraídos diante do que acontece ao nosso redor? A obra de Pe. Dehon e suas maneiras ainda têm muito a nos dizer. Sua palavra não pretendeu ser a última palavra ou o ponto final. Entrar nela, ao contrário, significa participar de um dinamismo que questiona a vida e nos convida a reorientá-la de e para a fonte que sempre o saciou, o Coração de Cristo:

Estou revendo as meditações que escrevi sobre a Tríplice Coroa, completando-as. Isto é uma graça para mim. Coloco-me novamente à disposição de um amor ardente ao Sagrado Coração. É para mim o único caminho por onde posso caminhar com um pouco de solidez. As outras direções podem convencer minha mente, mas não me agarram com força suficiente. Este é o meu caminho, a minha vocação. Jesus quer de mim um amor terno ou nada. O amor é suficiente para tudo; ele me ajuda a humilhar-me, a arrepender-me, a seguir os conselhos da perfeição, a manter-me unido a Nosso Senhor. Esta é a minha salvação e minha santificação.[9]

A celebração do nascimento de nosso Fundador seja uma motivação para um maior interesse por sua vida, sua obra e seu modo de viver seu compromisso cristão. Lá encontraremos um bom guia para nos aproximarmos, por sua mão, com sua letra e seu testemunho, do Coração que ele tanto amava.

Nele, fraternalmente,

P. Carlos Luis Suárez Codorniú, scj
Superior geral e seu Conselho

 

[1] T.G. Govaart, Lettere circolari III, Bologna 1958, 266.

[2] www.dehondocs.org

[3] La personnalité du très bon père, Dehoniana (2014) 99-106.

[4] Le témoigne d’une vie, Studia Dehoniana 59, Roma 2014.

[5] Le Père Léon Dehon 1823-1925. Entre mystique et catholicisme social, Paris 2005.

[6] Mission und Kirche. Geld und Nation. Vier Perspektiven auf Léon G. Dehon, Gründer del Herz-Jesu-Priester, Bologna 2020.

[7] “Está todo por hacer”. Infancia y juventud de León Gustavo Dehon.

[8] La main de Dieu sur l’épaule. Père León Dehon Fondateur de la Congrégation des Prêtres du Sacré Cœur.

[9] NQT 19/67.

 

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