13 dezembro 2020
13 dez. 2020

Missão possível nas terras longínquas da Papua

Missão possível nas terras longínquas da Papua
A Província da Indonésia tem uma missão interna para cuidar, na província da Papua, que é um dos territórios mais orientais do país. O Ir. Gregorius Sigit Wiyono SCJ trabalhou nestas terras longínquas de Papua durante dez anos. É uma missão onde, por vezes, é preciso empregar quinze dias para chegar a algumas áreas a pé, de moto e de helicóptero. O Ir. Gregorius Sigit Wiyono SCJ, irmão religioso da Província da Indonésia, partilha aqui a sua experiência.
por  Gregorius Sigit Wiyono, scj
email email whatsapp whatsapp facebook twitter versão para impressão

“Que queres que eu te faça?”. A pessoa respondeu: “Senhor, que eu veja!” (Lc 18,41). A partilha que vou fazer espelha-se um pouco nestas palavras da Bíblia. Nos últimos dez anos, eu estive a trabalhar na terra da missão interna da Papua como irmão religioso. E foi nesta terra de missão que senti que a vida de fé e de Igreja é muito dinâmica, sentindo grande compaixão por tantas pessoas sedentas da Palavra e da Eucaristia que não podem ser servidas ao máximo. Foi na Papua que a minha consciência e a minha moral se revoltaram muitas vezes contra a injustiça e a falta de ajuda.

Na diocese de Timika, fui designado para a paróquia de “Maria bintang laut” (Maria Estrela do Mar), em Kokonao. A diocese foi fundada a 19 de dezembro de 2003 e o seu primeiro bispo foi D. John Philip Saklil. Esta jovem diocese conta 113.420 católicos, distribuídos em 30 paróquias, e estende-se ao longo da costa sul, atravessando as montanhas centrais da Papua em direção à costa norte da Papua. Por razões de eficácia pastoral, tem sido prática comum fundir várias paróquias numa única, devido ao limitado número de agentes pastorais. Em 2015, a Diocese de Timika contava 20 padres diocesanos e 21 padres religiosos. A área pastoral estende-se por oito distritos e tem uma área de 102.892 km2, área bastante vasta para um reduzido número de agentes pastorais.

A natureza, por si só, é já um desafio para o serviço pastoral

A costa sul, dominada por florestas de mangue e florestas lamacentas, faz com que a área pastoral seja acessível apenas de barco e a pé. Há vários lugares com instalações aeroportuárias, mas sem horários fixos de voo. Durante os serviços de rotina e férias para os lugares mais distantes, uma simples viagem pode demorar entre dez a quinze dias. Por sua vez, a área pastoral nas montanhas centrais da Papua, com montanhas íngremes, é acessível apenas por avionetas (The Scottish Aviation Twin Pioneer é própria para curtas descolagens e aterragens) e, depois, de moto ou a pé. Atualmente, o governo está a construir a estrada a atravessar a Papua, a chamada “Trans-Papua Highway”, que se refere a 12 segmentos de estrada, alguns ainda em construção, através das províncias da Papua e da Papua Ocidental), partindo da costa norte, atravessando as montanhas centrais, está planeada para fazer a ligação com a costa sul. Quando estiver completada, será certamente um apoio para a pastoral da Igreja.

O contexto cultural

Outro desafio que causa algumas dificuldades tem a ver com o contexto cultural, constituído por dezenas de diferentes tribos e línguas. Em muitos lugares, quando fazemos visitas, é necessário convidar alguém da comunidade local para fazer a tradução para a sua língua: mesmo nos momentos de celebração, é preciso ter sempre um tradutor ao lado do altar. Além disso, a pregação torna-se ainda mais complexa, devido às faltas de conhecimento e compreensão em relação à Igreja e aos seus ensinamentos. A este respeito, fui-me dando conta que a Diocese de Timika é bastante criativa, nomeadamente na forma como tem pedido aos professores das escolas católicas em zonas rurais que assumam a tarefa adicional de serem ativos na vida da igreja nos seus respetivos locais de trabalho. Eles também ensinam religião nas escolas e tornam-se promotores da vivência da fé católica.

Na minha opinião, o passo que neste momento se afigura mais urgente para esta jovem diocese é recrutar trabalhadores das nuvens como catequistas para fazer face à falta de padres. Os confrades com a formação de 14 membros começaram a construir um edifício polivalente. Um dos objetivos é a educação dos agentes de pastoral. Infelizmente, este esforço tem sido limitado pelo financiamento.

A minha vida como Dehoniano

Como vivo a minha vida como dehoniano numa situação destas? Nos primeiros meses senti muitas dificuldades na minha adaptação à cultura, à natureza e aos novos hábitos de vida. Contudo, a oração e a obediência a Deus tornaram-se uma fonte de força e inspiração para a minha vida e para a minha fé. À sua maneira, Deus tem-me confirmado e fortalecido de várias maneiras. A beleza natural da Papua é o que mais me atrai. Deste reino, Ele transportou-me, então, para me maravilhar com a sua obra majestosa. A natureza com florestas virgens, ar puro, inúmeros animais e espécies fez-me perceber que a Papua faz parte da minha vida. A singularidade da cultura local também me faz apaixonar por esta terra.

A aceitação e a fraternidade são características das comunidades locais que podemos encontrar em eventos realizados para acolher convidados ou recém-chegados. Os meus contactos diários com o povo levaram-me a compreender que as pessoas talvez não se apercebam de quanto Deus faz pelo povo papua. Por vezes, parece estar para lá da lógica. Por exemplo, uma mulher do interior da Papua pode dar à luz crianças saudáveis sem medicamentos e sem instalações médicas esterilizadas, apenas com o auxílio da comunidade. Outro exemplo tem a ver com a forma de curar as febres altas devido à malária: cura-se, dormindo no chão com folhas de bananeira; e recupera-se sem tomar medicamentos. No entanto, é difícil de raciocinar. Ocorre. Para mim, é desta forma que Deus cuida, protege e abençoa este povo. O governo providencia instalações de saúde, mas não são ótimas porque, muitas vezes, os agentes de saúde vivem nas cidades onde foram colocados. Cada vez que vão de viagem, os religiosos dehonianos devem levar a sua própria medicação. Quando se viaja para o interior da Papua, normalmente leva-se roupa para distribuir pela comunidade; muitas vezes, leva-se também medicamentos, bem como material escolar para as crianças.

Convido-vos a rezar

Como dehoniano, convido os confrades de todo os mundo a rezar pelos confrades que se encontram na terra de missão da Papua, para que sejam abençoados com boa saúde e com o poder do Espírito Santo, para continuarem intrépidos a espalhar o evangelho no interior da Papua. Se Deus me perguntar “o que queres que eu faça por ti?”, eu responderei: “Senhor, que eu possa ver a prosperidade e o bem-estar do teu povo na terra da Papua, de modo que muitas pessoas se sintam motivadas a comprometer-se com alguma forma de evangelização na Papua”.

Inscreva-se
na nossa newsletter

SUBSCREVA

Siga-nos
nos nossos canais

 - 

Inscreva-se
na nossa newsletter

Leia a Política de Privacidade e escreva para